O apocalipse, visto do enola gay

Para um adepto do Benfica, as coisas não podiam estar a correr melhor: venceu no dragão de forma categórica, vê a equipa a jogar bom futebol e, não menos importante, vê os rivais em mau estado. Em muito mau estado, no caso do Sporting. Em tão mau estado, alías, que, um adepto do Benfica ao olhar por cima da segunda circular, sente o mesmo que sentiu o artilheiro do Enola Gay quando olhou para trás e avistou a explosão da Bomba, da segurança dos vários milhares de metros de altitude a que o avião se encontrava.

E este distanciamento e segurança têm uma vantagem importante: permitem-me observar o apocalipse - a crise no sporting - com uma objectividade pouco habitual em mim, embora com a inteligência e acutilância de sempre. ;-)

E o que vejo é que o problema do Sporting não é o Peseiro, ou sequer o plantel. O problema é a falta de liderança! Foi a falta de liderança que permitiu que os actos de indisciplina fossem punidos com multas absolutamente inócuas - porque suspender os jogadores, "seria prejucial ao clube" - e, por isso, passassem de casos isolados a práctica comum, destruíndo por completo a autoridade do treinador. Foi esta inércia que levou a que se chegasse ao extremo de ver jogadores a insultar o treinador, em frente ás câmaras, impunemente, ou a recusar-se a jogar, por não terem sido titulares num jogo anterior. Só se pode ser disciplinador se se tiver as costas quentes! Se não, pode-se berrar à vontade, que ninguém nos leva a sério. E, neste aspecto, o Peseiro nunca teve as costas quentes.

Foi essa falta de capacidade de tomar as decisões dificeis - também vulgarmente conhecida como liderança - que lixou e vai continuar a lixar o sporting, mesmo que se substitua o treinador.

A coisa só vai ao sitio com a contratação de um líder, seja ele um treinador que assuma essa responsabilidade de forma inequívoca - como por exemplo o Camacho - ou um dirigente que perceba que não há jogadores insubstituíveis e que o colectivo é sempre mais importante que as individualidades. E sem disciplina, não há colectivo, como já é do conhecimento geral, desde a antiguidade clássica.

Houve até quem construisse um império, que durou séculos, sobre esse pressuposto, porque é que não havia de ser possível ganhar um mero campeonato de futebol?