No fim de semana em que o Glorioso Sport Lisboa e Benfica fica isolado na liderança do campeonato nacional há algo que nos obriga a desviar as atenções de tal feito: António Oliveira, portista confesso, ex-seleccionador nacional e irmão do patrão da Olivedesportos, dá uma entrevista que, apesar de não dizer nada que não se saiba, por vir de quem vem tem que ser analisada e muito bem esmiuçada.
É bonito ouvir António Oliveira dizer que o SL Benfica tem mais dimensão internacional que Porto e Sporting juntos mas isso são "peanuts" comparado com o real sumo da sua entrevista. Em resumo, António Oliveira disse, com todas as palavras, que a Olivedesportos é quem manda no futebol português, que é a Olivedesportos que decide quem ganha a presidência da Liga e da FPF, que os sorteios da Taça de Portugal são uma farsa (parece que falou mesmo em bolas frias e bolas quentes) e deixou nas entrelinhas que Olivedesportos muito ajudou o Porto. Já se passaram uns dias e ninguem com autoridade neste país veio a terreiro dizer seja o que for. Pior, o nosso Presidente, Luis Filipe Vieira, nada disse sobre o assunto. E tem que dizer. Tem que dizer porque o SL Benfica não só é o principal lesado por tudo o que António Oliveira disse como também ainda se senta à mesa nas negociações com a Olivedesportos e senta o Joaquim Oliveira no sagrado camarote presidencial do Estádio da Luz.
Desde que comecei nas lides da internet a debater o Sport Lisboa e Benfica que apontei como cabeça do sistema do futebol português a Olivedesportos e os seus interesses obscuros que conseguem manter os clubes na sua mão, completamente submissos, enquanto que vai ajudando o Porto (e de quando em vez, o Sporting) a conquistar títulos atrás de títulos. Os clubes falidos venderam os direitos televisivos a Joaquim Oliveira que depois os revendeu, num negocio que ninguem consegue explicar, à RTP por valores pornograficamente superiores, ganhando milhões e enriquecendo brutalmente. Tanto dinheiro permitiu à Olivedesportos meter no bolso a maioria dos orgãos de comunicação social e dessa forma controlar todo o tipo de notícia e comentários. Dominando o mundo do futebol e a imprensa foi fácil transformar jogadores banais em grandes estrelas que depois seriam vendidas por milhões. Os árbitros garantiam a protecção necessária para que o "menino" fintasse à vontade (qualquer perda de bola era assinalada falta e faltas mais duras davam logo expulsão provocando medo nos defesas em irem à bola, assim, o "artista" passava à vontade) e os comentadores rasgavam-se em elogios, ignorando os passes errados e decisões infelizes. Quanto mais os anos passavam mais os tentáculos da Olivedesportos penetravam no futebol nacional, mais fortes ficavam e cada vez mais bem protegidos a ataques exteriores. Aprenderam muito bem a lição após o ataque, quase fatal, que sofreram em meados do ano 2000.
Prometi a mim mesmo que já não me cansaria com esta discussão, que evitaria voltar a tocar no assunto mas, estas declarações de António Oliveira são demasiado importantes para não voltar a falar do tema. Este sistema hoje existe porque os benfiquistas assim o permitiram, porque preferiram acreditar nas patranhas com que a Olivedesportos inundou a imprensa sobre o homem, o único homem que realmente lutou e fez algo de concrecto para acabar com o polvo do futebol português: Vale e Azevedo. O ex-presidente do SL Benfica "rasgou" os contratos com a Olivedesportos e a partir desse momento foi alvo de uma campanha difamatória absurdamente gigante que minou todo o seu trabalho em prol do clube. Relembro que não só Vale e Azevedo mandou a Olivedesportos à fava (hoje penso que 90% dos benfiquistas quer o mesmo) como venceu, concludentemente, em tribunal a acção que a Olivedesportos interpôs para anular o "rasgão" de contrato. Relembro igualmente que nessa altura a União de Leiria também rescindiu com a Olivedesportos. E outros se seguiríam e seria o fim anunciado da Olivedesportos. E isso era tão óbvio que a dita usou todas as armas que tinha para derrubar Vale e Azevedo. Ao ponto de não conseguir ajudar o seu clube protegido que ficou três anos sem vencer o campeonato, situação única, penso, no reinado de Pinto da Costa. E que só voltou a vencer porque alguém lhes "ofereceu" Mourinho...
Posso falar de n situações mas fico-me por uma que mostra claramente como tudo se desenrolava naquele tempo: O Benfica compra Marchena ao Sevilha, o clube espanhol na pré época vai estagiar ao Algarve. Os jornalistas portugueses inundam o Presidente do Sevilha com perguntas sobre a falta de pagamento do Benfica por causa do central espanhol. O Presidente do Sevilha diz que o Benfica está a cumprir o acordado, que pagou a primeira tranche e que a próxima é só dali a uns meses, mas os jornalistas continuam a perguntar "mas não falta um pagamento?", "não vai denunciar a falha do SLB", etc etc..e o pobre homem a dizer que estava tudo ok. Que mensagem passou no dia seguinte nos jornais? Que o Benfica estava em incumprimento com o Sevilha... Isto foi sempre assim no mandato de Vale e Azevedo. A causa está aí, nas palavras de António Oliveira, um homem claramente por dentro dos podres do futebol português. Não tenho ilusões, sei que estas palavras trazem uma agenda escondida, mas não deixam de denunciar uma verdade que todos sabemos existir mas que as autoridades se recusam a enfrentar.
Neste momento não é fácil destruir este monstro que soube aprender com o ataque de Vale e Azevedo e blindou, legalmente, os seus contratos. Mas o Benfica pode e deve deixar de pactuar com isto, pode e deve deixar de ter laços com tal empresa, pode e deve dizer que é livre.