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sábado, julho 29, 2006

A importância de ser Loureiro

"AS eleições para a Liga estão à porta.
Mas à porta de quem? — é a questão. E que questão.
O ex-secretário de Estado do Desporto, Hermínio Loureiro, do PSD, apresentou a sua candidatura à presidência da Direcção na segunda-feira. Chegou há poucos anos ao futebol pela via partidária e, agora, pretende regressar pela via dos votos dos clubes. Anunciou almejar uma purificação do futebol português. Não vai almejar nada. E porquê? Nas eleições da Liga, para cada órgão — presidente, Comissão Executiva, Direcção, Assembleia Geral, Conselho Fiscal, Comissão de Arbitragem, Comissão Disciplinar e Comissão Arbitral—terão de ser formadas listas autónomas. Hermínio Loureiro, o social-democrata, candidatou-se, pois, a presidente. E apareceu sozinho. Esperou, provavelmente, pela desistência de um outro possível candidato, o ex-secretário de Estado do Desporto do PS, Miranda Calha, e ocupou muito rapidamente o lugar destinado à classe política nestas coisas do futebol.
Contudo, a candidatura de Hermínio Loureiro tem tudo menos de espontânea. Nos últimos meses o seu nome foi por diversas vezes apontado como uma «boa» solução pelos canais próprios e facilmente identificáveis dos defensores do regime.
O regime do futebol português nos últimos 20 anos tem três rostos: Valentim Loureiro e Pinto da Costa e um terceiro. De tal modo que ao primeiro todos tratam por «major», tal qual era o seu posto no exército, e ao segundo todos tratam por «papa», porque é mais cómico assim. O terceiro rosto é o de Joaquim Oliveira, o patrão da Olivedesportos, financiador dos clubes de futebol através dos contratos de transmissões televisivas. Perguntaram os jornalistas ao candidato a presidente da Direcção, Hermínio Loureiro, se tinha afeição por algum candidato especial para a presidência da mesa da Assembleia Geral. Respondeu logo que sim: — Apartir do momento em que o major Valentim Loureiro se candidatar a esse lugar passará a ser o meu candidato! Teremos, assim, na Liga uma troca de assoalhadas. Loureiro (Hermínio) passará a ocupar o gabinete de Loureiro (Valentim). E a opinião pública interroga-se: — Serão da mesma família? Olhem, se não são, parecem. A eleição de Loureiro (Valentim) por quatro anos para o posto de representação institucional do futebol português será a maior vitória do regime. Por mais que Loureiro (Hermínio) pense que é o presidente da Liga, está absolutamente enganado. Não é. Acusado de algumas dezenas de crimes de corrupção, a eleição de Valentim Loureiro para a presidência da mesa da Assembleia Geral é uma singularidade que dá que pensar. Como é que os clubes de futebol podem votar para seu representante num dirigente-arguido? Porque gostam? Porque se sentem amparados? Porque estão habituados? Julgo que é por estarem habituados. E pelo preço a que estão, no mercado, os pingos de vergonha.
Caríssimos. As próximas eleições na Liga poderão vir a ser disputadas por candidatos-arguidos contra candidatos-não-arguidos? Havia de ser interessante.
O Paços de Ferreira avançou um dia destes com o nome de António Oliveira para a presidência. António Oliveira é irmão de Joaquim Oliveira, o patrão da Olivedesportos. Hoje, como é público, António Oliveira não tem nada a ver com a empresa que ajudou a criar. Já faz tempo que os irmãos separaram os bens. Há quem diga que estão desavindos. As relações de António Oliveira com os outros dois rostos do regime também não são nada pacíficas. Se António Oliveira avançasse com a sua candidatura prestaria um bom serviço ao futebol português. E à história da perversidade da sociedade em geral. Mesmo que fosse para perder. O lado mais folclórico, infelizmente, seria o da guerra entre irmãos. Um épico de proporções shakespearianas: poder, dinheiro, ambição, intriga, glória. Mas de nada disto precisa a bola. Disto tem de sobra e muito sobrevalorizado pela estatística. O que o futebol precisa é de verdade e de independência.
Quando o Benfica, no tempo de Vale e Azevedo, rompeu com a Olivedesportos veio a lume que os contratos assinados entre os clubes e a empresa mediadora obrigavam os clubes a votar em consonância com os interesses da Olivedesportos nas eleições da Liga. Quando o professor Antunes Varela produziu um parecer favorável às posições do Benfica que permitiu uma primeira vitória no Tribunal da Relação, foi amplamente enfatizado este pormenor.
Quando Vale e Azevedo foi preso, o regime, ou melhor, os canais oficiais e oficiosos do regime celebraram as qualidades da justiça, dos juízes e das algemas. E os clubes, os clubes todos, continuaram a fazer os orçamentos em conformidade com as dotações da Olivedesportos, encarada como uma instituição de beneficência com fins lucrativos. Daqui a três semanas começa o campeonato. Lá para o Natal vão alguns começar a queixar-se. Como fazem sempre. Vão começar a chorar. Que está tudo combinado, que há um complot para nos mandar para a II Divisão, que há outro complot para nos afastar da Europa e que há outro complot para decidir o campeão. Complot quer dizer manigância. O costume. É muito bem feito. Têm o que merecem. "

Leonor Pinhão, Contra a Corrente - in A Bola

Esta para cair um santo do altar.....

2 comentários:

João Bizarro disse...

"É muito bem feito. Têm o que merecem. "

Pois. É isso que eu penso quando vêm com os choradinhos do costume.

Mas digo TODOS. Porque o Benfica também anda a apoiar o mafioso do major.
Em vez de lutarmos para limpar a podridão ainda vamos lá dar mais uma engraxadela. Assim não.

Pedro disse...

Mas o LFV está onde está, em boa parte, à custa no mano Joaquim...por isso será dificil um ataque cerrado ao Sistema por parte dele.
E basta ver o q ele diz do Apito Dourado para atingir o Pinto da Costa e depois dá palmadinhas nas costas ao Major Batata...