Leonor, o livro e o filme

"...faço traduções e revisões de texto para a D. Quixote e, portanto, o livro passou-me pelas mãos antes de ser editado. O que disse ao Alexandre Valente foi que escreveria o argumento desde que não fosse uma adaptação fiel do livro, do início ao fim. Achei interessante partir do livro e criar uma ficção inspirada nele. Depois, havia que falar com a Carolina Salgado... O filme nunca se faria sem o OK da Carolina..."

"Nunca pensei que [o livro] tivesse este impacto tão brutal na sociedade. Não advogo a tese de que o procurador-geral da República [Pinto Monteiro] tenha nomeado uma equipa especial, liderada pela dr.ª Maria José Morgado, por causa do livro. Quando ‘Eu, Carolina’ saiu, todas as exposições que a Carolina fez sobre alegadas corrupções, actos ilícitos, actos violentos já eram do domínio público. Até a agressão ao deputado Ricardo Bexiga... O livro não veio revelar nada de novo ou importante para a investigação. Bombástico foi o facto de a Carolina ter assumido publicamente que tinha trabalhado numa casa de alterne e isto é credor da minha admiração por ela."

"... Não me incomoda nada [que ‘Eu, Carolina’ não corresponda ao manuscrito original e de que estou envolvida na publicação da obra]. Não há nenhum livro que chegue a uma editora e seja publicado no mesmo estado. Há revisores, copy-desk e toda uma equipa de profissionais que pega nos originais e os trata de forma a poderem ser publicados. Quer eu, quer a D. Quixote, temos o original do livro connosco e as alterações introduzidas, as vírgulas, os pontos, os parágrafos, a divisão em capítulos. Fiz a revisão do livro, fui paga para isso, mas, se tivesse escrito o livro, assumia-o publicamente..."

"...se tivesse escrito o livro, assumi-lo-ia com a mesma naturalidade com que assumo a escrita do guião do filme. Não tenho medo nenhum do senhor Pinto da Costa. Ele é um tigre de papel. O que saiu, ou não, do original é absolutamente irrelevante. O livro vale pelo que é publicado. Não se podem fazer processos de intenções sobre o que não está lá. Compreendo que isso faça parte da estratégia de defesa do senhor Pinto da Costa..."

"...Não confirmo [que houveram partes retiradas do livro]. Um livro não sai de uma editora tal como lá chega. Saíram, por exemplo, fotografias do senhor Pinto da Costa, em poses ridículas, por uma questão de decoro. Eu não vou falar de um livro que não existe."

"...Não é verdade [Pinto da Costa disse que, no livro, a parte sobre a agressão a Ricardo Bexiga não corresponde à versão da obra original...] . Mas não me interessa desmentir, ponto por ponto, tudo o que ele disse. Mas é mentira..."

[Sobre se LF Vieira teria pagado (20 mil euros) para garantir a venda dos primeiros exemplares do livro] "...Seria uma grande forretice de Luís Filipe Vieira. (risos) O mais grave que Pinto da Costa disse sobre Luís Filipe Vieira era que este festejava os golos do Porto contra o Benfica e que eram amigos. Sobre esta amizade antiga, posso dizer que, enquanto presidente do Alverca, Luís Filipe Vieira estaria a defender os interesses do Alverca sendo amigo de Pinto da Costa. Os pequenos clubes de futebol sempre se sentiram aconchegados e certos de que evitariam despromoções ou casos desagradáveis no decorrer de uma época, se fossem amigos de Pinto da Costa..."

"...Pinto da Costa é a pessoa com menos credibilidade do Mundo para discutir o processo ‘Apito Dourado’. .."

"...O futebol é um Estado dentro do Estado português e a minha disponibilidade para este assunto é igual àquela que deveria ser a de todas as pessoas, independentemente do seu clube. É importante um futebol mais limpo, que as pessoas vão aos estádios sem pensarem que o resultado está pré-combinado. .."

"...Se o presidente do meu clube fosse o sujeito principal do ‘Apito Dourado’ teria a mesma opinião..."

"Nos últimos anos, o Benfica e o Sporting são vítimas deste esquema de corrupção."

"Em Portugal, há um sentimento de subserviência e medo dos poderosos. Nos últimos 25 anos, criou-se uma estrutura de poder a norte que criou a ideia de impunidade total sobre si própria e que está em cheque de há dois anos para cá. "

"Não há nada que possa prejudicar o filme. Está a ser feito e vai ser visto. E, agora, o senhor Pinto da Costa já não fala como o conhecemos durante anos. Penso que já pergunta aos advogados o que deve dizer. Já não tem a genuinidade que lhe apetecia ter. Além disso, não tem matéria para inviabilizar o filme. Alguma tentativa para proibir o filme, só o tornaria mais apetecível. "

* de uma entrevista publicada no Correio da Manhã.