Arbitragens: a históra toda!

Já não há paciência para as críticas à arbitragem!

Espera, espera, espera... já sei o que vão dizer:

"Ó badameco, nós somos adeptos de futebol! Se não passarmos a vida a dizer mal dos árbitros, o que é que é suposto fazermos durante a semana? Trabalhar, não? Ou, ainda pior, falar sobre o futebol em si, queres ver? Grande besta!"

Eu sei que somos adeptos de futebol e que dizer mal dos árbitros está-nos no sangue, mas isso é quando eles merecem! E - e eu sei que o que vou dizer é chocante, por isso agarrem bem os boxer shorts - os árbitros portugueses não merecem! Ou por outra, aqueles que são corruptos e andaram a cavalgar quengas internacionais à conta da atestada tesouraria das antas, claro que merecem as críticas! Mais do que críticas, merecem ir bater com os costados na cadeia e, quem sabe, tornarem-se eles próprios as quengas internacionais (no caso dessa pequena elite dos corruptos que ainda assim almejaram atingir essa prestigiante categoria, desejada por qualquer membro da classe arbitral) dos reclusos com mais amor para dar.

Mas os outros, os que são criticados semana após semana, mês após mês, por adeptos, treinadores, dirigentes e comentadores e não tiveram a sorte de cavalgar quengas internacionais à conta da tesouraria das antas, não passam de vítimas! E vítimas de quem? De adeptos, jogadores, treinadores, dirigentes e comentadores! No fundo são vitimas de todo o "edifício do futebol português", como é de bom tom dizer-se hoje em dia.

De adeptos, porque nós exigimos do árbitro exactamente o mesmo que exigimos dos nossos jogadores: perfeição absoluta e total, durante todo o período do jogo e em todos os jogos, de todas as competições, oficiais ou não! E, infelizmente, e ao contrário do que acontece com os jogadores do Benfica, verdadeiros autómatos infalíveis, cuja programação única é esmagar o adversário e, ao mesmo tempo, encantar o público, seja ele benfiquista ou infiel, os árbitros são apenas humanos! E, se é bem verdade que os Humanos têm algumas versões bombásticas de músicas do Variações que não são tão bombásticas como isso, também não é menos verdade que se há coisa que fazem consistentemente, é errar! E erram sem querer, até porque, se fosse por querer, não era erro. E tenho uma novidade que pode ser chocante: vão continuar a errar nos próximos anos. Diria ainda mais: só vão parar de errar, quando o Benfica adicionar a arbitragem às suas modalidades amadoras e passarem todos a ser atletas do Benfica e, consequentemente, verdadeiros autómatos infalíveis, cuja programação única é fazer arbitragens imaculadas, sem beneficiar o Benfica ou os infiéis! E, meus amigos, exigir a perfeição de um simples ser humano, quando ele não se chama Rui Costa, pode ter efeitos devastadores sobre a sua personalidade!

Dos jogadores porque, lamento dizê-lo, são uma cambada de filhos da puta batoteiros! É à bruta, mas é verdade! Encorajados há muito pela imprensa e pelos comentadores, que consideram louvável e astuto, quando um jogador simula uma falta e consegue assim viciar um resultado, os nossos profissionais da bola tornaram-se peritos na nobre arte da simulação! Penalties, agressões, faltas para cartão... os nossos relvados são palcos, onde estes "artistas" da batota caem, fingem que levaram na tromba, fingem que foram insultados, enfim, fingem! É um verdadeiro espectáculo de variedades! E quem é a vítima de todo este talento? Adivinharam: é o pobre do árbitro, a quem não bastava a difícil tarefa de ajuizar as incidências de um jogo, como ainda tem a dificuldade adicional de ter de distinguir quais as incidências "a sério" e quais as que são fruto da criatividade e do talento dos simuladores nacionais! Mas, a culpa não é da liga, que devia castigar os simuladores, perguntam vocês? É e não é! É da liga que não os castiga, é da imprensa que não os denuncia como batoteiros que são, é dos adeptos que não os vaiam quando a simulação lhes vale a vitória num jogo... mas, acima de tudo, é deles, que são profissionais, pagos a peso de ouro, e deviam ter brio e orgulho na sua profissão! Sabendo que são ídolos para os mais jovens, deviam fazer questão de defender os valores da competição saudável, do desportivismo e do respeito pelo adversário e pelo público... e não fazem! Preferem fazer de conta que são profissionais!

Dos treinadores, porque dizem que nunca falam de árbitros e depois só cumprem quando ganham os jogos, ou quando estão calados! Tirando os nobres e elevados gentlemen que treinam o glorioso, não há um troglodita dessa classe mesquinha que, quando perde um jogo, não saia a correr do campo, para poder ver o resumo em fast forward, em busca de um erro do árbitro a que se possa agarrar. Alguns, mais preguiçosos, até preferem lançar a suspeita por meias frases e enigmas, para nem sequer terem o trabalho de ir ver o resumo do jogo em fast forward. "O árbitro? Vocês viram a mesma vergonha que eu! Há pessoas que não querem que este clube ganhe! Jogámos contra 14 e por isso é que levámos 8-0! Se tivessem assinalado aquele penalty quando ainda só perdíamos por 5, ou se um avião tivesse caído em cima da defesa deles, as coisas teriam sido diferentes"... and so on, and so on!

Dos dirigentes, pela mesma razão dos treinadores. Na vitória, mesmo quando beneficiados pela arbitragem: "o não sei quantos é um clube diferente e não fala de árbitros, mesmo quando ganha com um golo mal anulado ao adversário que estava 1 metro lá dentro, ou beneficia no mesmo jogo, de um penalty mal assinalado a favor e outro, por assinalar, contra". Na derrota, mesmo quando não têm razão de queixa: "há uma cabala contra nós, porque no jogo da semana passada um fiscal de linha interrompeu um jogo e assinalou mal um penalty e nesta semana, outro fiscal de linha interrompeu um jogo, mas o árbitro não assinalou mal outro penalty! Só para nos lixar! É inadmissível! Vamos fazer queixinhas à mamã e pôr tirinhas pretas à volta dos bracinhos, que é para vocês aprenderem!"

Dos comentadores porque... há tanto para dizer sobre os comentadores! Para já, uma pergunta honesta: qual é o curso que é preciso tirar para ser comentador? É que eu também quero! Receber pasta para atirar as mesmas larachas sobre a jornada que atiro gratuitamente, junto à máquina de café lá do emprego, todas as segundas feiras (ou terças, quando há jogos à segunda), parece-me muito bem! É preciso ser realizador de cinema e estar sempre mal disposto? Ou é preciso ser rico e estar sempre bem disposto? Ou será que basta ser corrupto e rapar o bigode? Ou o truque é meter uns óculos de massa a armar ao intelectual e não lavar o cabelo depois de fritar os rissóis para o jantar? Eu quero saber! Eu também quero um bocado desse bolo! E eu não percebo muito de bola, mas basta ver televisão para perceber que o grau de conhecimento que é necessário ter, varia entre o zero e a temperatura de congelamento de alguma coisa que tenha uma temperatura de congelamento muito negativa! O que eu quero dizer é que a larguíssima maioria dos comentadores são imbecis. Pronto, está bem, estou a exagerar. São muito pior do que imbecis: são completas nulidades que ganham fortunas a dizer baboseiras genéricas, que copiam uns dos outros, sem qualquer tipo de pudor! Eu também sei dizer que faltam automatismos, quando uma equipa perde, ou que fazem uma pressão alta muito intensa, quando ganham! Mas se o único pecado destes xicos-espertos fosse ser incompetente, estávamos nós muito bem! Mas não é! O problema é que esta gente potencia activamente os problemas de arbitragem em Portugal, através do exercício furioso e em directo, e às vezes em horário nobre, de uma falta de conhecimento atroz das leis do jogo e de um muito português amor pelo xico-espertismo. Uma espécie de narcisismo projectado. Mas, dizia eu, tornou-se moda, graças a estes senhores, ao analisar um lance duvidoso na área, concluir com um "há toque, logo é penalty" triunfal e ficar à espera, de braços no ar e sorriso de orelha a orelha, dos aplausos de aclamação da turbe maravilhada com tanta ciência! E isto não podia estar mais errado! Haver toque, não significa que haja penalty. Surpresa: o toque é permitido em futebol que até é, pasme-se, um desporto de contacto! Só é falta quando há um toque SUFICIENTE PARA IMPEDIR O JOGADOR DE PROSSEGUIR COM A JOGADA! Baixa os braços, tira esse sorriso parvo da cara e justifica a fortuna que a SIC te paga aprendendo as leis do jogo, imbecil! É por isso que nos jogos internacionais os gajos parece que deixam jogar mais... eles sabem as leis do jogo! Mas em Portugal, graças a esta corja de sanguessugas ignorantes, o futebol deixou de ser um desporto de contacto e passou a ser uma espécie de boxe olímpico com bola, ou de esgrima sem espada: quando há toque, para tudo e marca-se a falta! Daqui até ao celebérrimo e também muito encorajado "cavar a falta" foi um passinho muito fácil de dar e é por isso que os jogadores em Portugal são aquilo que são (e já foi focado mais acima)!

É por isso que vos digo: a culpa desta merda toda não é dos árbitros! É minha, é vossa, é das prima-donas que embelezam os nossos relvados em vez de jogarem à bola, é dos dirigentes, dos treinadores... a culpa da estado a que chegou o futebol português é do próprio futebol português!

Agora lembrem-se disto quando estiverem a atirar larachas junto à máquina do café do emprego!

Tenho dito!