Realidade Benfiquista

No chamado Verão Quente de 1993 o Benfica sofreu um dos maiores golpes de toda a sua história, por motivos de falta de pagamento alguns jogadores do Glorioso rescindiram contrato com o clube indo para outras paragens. Alguns foram recuperados a tempo enquanto que outros, felizmente, recusaram logo propostas milionárias de clubes rivais.
O Benfica, sob o comando de Toni, partia desta forma problemática para a época 1993/94. Como todos sabemos acabou por ser uma época histórica, com jogos memoráveis e uma das mais saborosas conquistas do título de Campeão Nacional. Findo esse campeonato o Presidente de então, Manuel Damásio, teve aquele que provavelmente terá sido o maior acto de anti benfiquismo de todos os tempos, dispensando o treinador campeão Toni pelo aterrador Artur Jorge. A partir daí foi o declinio total.

Centenas de jogadores e dezenas de treinadores passaram pelo clube sempre com o mesmo resultado que neste caso foi sem resultado nenhum. A instabilidade desportiva aumentava a instabilidade financeira e o Glorioso viveu momentos de caos total. A toda esta conjectura interna a conjectura externa aproveitou para crescer e oprimir ainda mais as hostes benfiquistas. Com o Benfica fraco e debilitado o "Sistema" aproveitou para crescer, espalhar tentaculos e dominar, completamente, todas as instâncias do futebol português, orgãos de comunicação social incluidos. Sempre defendi que a qualidade dos jogadores do Glorioso nunca foi o motivo de tão grande caos desportivo a que o clube chegou, foi sim todas as envolventes que giram em torno do clube e equipa. Entre entrada e saída de presidentes, entrada e saída de treinadores, entrada e saída de jogadores, chegamos ao século XXI e os problemas mantinham-se. Muita fogueira das vaidades, muitos negócios pessoais, muitas amizades estranhas, o clube parecia não conseguir sair do caos em que estava. Estádio novo, enormes responsabilidade financeiras, equipa novamente em construção. No meio da confusão, apesar de inumeros erros cometidos, começa a surgir luz ao fundo do túnel, uma equipa competitiva começa a dar sinais de existir e com a chegada de um líder espanhol a equipa une-se. Uma tragédia dolorosa consegue unir ainda mais o plantel e os resultados desportivos surgem, finalmente. Uma Taça e um Campeonato em anos seguidos. Estava enterrado o passado caótico pensaram, concerteza, todos os benfiquistas. A partir dali já não se voltava para trás, o mais dificil estava feito. Era só continuar a navegar na onda benfiquista. Infelizmente não foi isso que aconteceu e nos três anos seguintes deitou-se tudo a perder. Regredimos 6,7,8 anos. Voltou o caos desportivo, as classificações vergonhosas. Salva-se uma aparente estabilidade financeira.

E eis que se chega a 2008, após um 4º lugarno campeonato e longe dos euros da Liga dos Campeões. Entra um novo Director Desportivo e uma nova equipa técnica. Pelo segundo ano consecutivo o clube faz um enorme esforço financeiro em reforçar a equipa. Vedetas outrora impossiveis hoje envergam o Manto Sagrado. As exigências surgem.

Em 15 anos de caos desportivo, de confusão reinante no seio do clube, é natural que os benfiquistas estejam fartos da falta de resultados, que desejem com todas as forças o regresso do clube ao topo, aos titulos, às conquistas. A única questão é : Será que é lógico ou justo ou realista pedir que em 6 meses, esta nova equipa Directora/Técnica, consiga transformar o Benfica naquilo que outros não conseguiram ao longo destes anos todos? Eu acho que não. Acho que o que é justo é pedir que se verifiquem melhoras. Que se sinta o clube/equipa crescer a diversos níveis. Goste-se ou não da ideia a verdade é que começou um novo ciclo e não é realista pedir que esse novo ciclo consiga resultados imediatamente. Todos nós queremos resultados, todos nós queremos vencer mas temos que perceber se estamos no bom caminho para isso ou não. Eu acho que estamos. E isso é importante.